Um atento passeio pelas modernas avenidas e bairros de Dubai e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, é suficiente para perceber os avanços que a transformação digital tem causado nas empresas e governos das mais inovadoras e desenvolvidas cidades do globo, a exemplo do que vem ocorrendo em Londres, Paris, Nova Iorque, Toquio e Singapura. Símbolo de adjetivos superlativos, a metálica e futurística Dubai, território do Burj Kalifa – o edifício mais alto do mundo – também tem sido um dos cenários do Oriente com grandes e crescentes investimentos em tecnologia e inovação. Imensas estruturas de concreto, aço, ferro e vidro sobem diariamente no meio do deserto, dividindo espaço com inúmeras mesquitas, para sustentar aceleradas construções de bairros e edifícios digitais, como é o caso da Cidade da Internet, próxima à maior ilha artificial do mundo, a The Palm Jumeirah. É nesta arborizada e tranquila localidade, perto do chamado Parque do Conhecimento, cercada por respeitadas universidades do Oriente e Ocidente do planeta, como a australiana Wollongong e a inglesa Middlesex, que empresas digitais, na sua maioria norte-americanas, como IBM, Microsoft, Google, Samsung, Oracle, Meta, Cisco e outras, dividem o mesmo espaço de seus edifícios e escritórios multiculturais. As bicicletas e patinetes elétricos são alguns dos meios de transportes de estudantes e funcionários dessas inovadoras companhias.São cidadãos de diferentes nacionalidades e gerações, alguns circulando com seus cachorros robôs integrados ao ChatGPT, que se misturam entre tradicionais e inovadores hábitos e costumes, inclusive religiosos, nos conectados e inteligentes sistemas logísticos da cidade, formados também por trens, barcos, metrôs, ônibus e rodovias. Esses estudantes de diversas áreas do conhecimento humano e científico, das artes às engenharias, circulam diariamente pelas ciclovias e demais rotas urbanas, com suas mochilas repletas de equipamentos digitais e tecnológicos, a caminho de bairros vizinhos ou distantes da cidade.
O destino de alguns desses moradores são localidades como a Cidade da Mídia, onde estão importantes conglomerados de informações: Gulf News, CNN, Thomsom Reuters, BBC Studios. Cada “hub” urbano de inovação – seja de mídia e entretenimento, financeiro, agronegócio ou saúde – tem implementado em suas estratégias e políticas novos códigos e condutas que reforçam essas tendências a passos largos da digitalização e conectividade: inteligência artificial, “machine learning”, modelagem 3D, robótica, digitalização, tecnologias de precisão, “blockchain”, tecnologia “ledger”, aplicativos e soluções digitais diversas. Em cada feira internacional ou encontro de negócios, inclusive com a participação assídua de competitivas companhias chinesas, esses mantras são repetidos incansavelmente para reforçar as visões de um futuro próximo, paralelamente às novas roupagens políticas e comerciais internacionais, como o mais recente BRICS, agora ampliado para acomodar a economia emirate entre as nações do grupo dos emergentes, juntamente com África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Brasil, China, Egito, Etiópia, Irã e Rússia. Nessa sonora Torre de Babel, onde se misturam dialetos e sotaques de todos os cantos do mundo, não faltam direções para o atingimento de metas pró transformação digital. Até 2025, o governo dos Emirados Árabes Unidos pretende, em consonância às recomendações da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para a digitalização pública, alcançar até oito dimensões para governos digitais: inclusão, resiliência, adequação digital, foco no usuário, design digital, orientação para dados e padrão aberto e proativo.
A expectativa das autoridades públicas dos Emirados, com as aberturas à economia criativa, por exemplo, é elevar nos próximos dois anos a famosa Dubai e suas zonas livres de impostos à capital global da inovação, com incrementos de até 5% no Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2025, geração de mais de 140 mil empregos e o envolvimento de cerca de 5,4 mil empresas e start-ups só no segmento de entretenimento e criatividade. São movimentos que explicam parte do otimismo global com os efeitos das novas tecnologias nas sociedades contemporâneas. Pesquisa recente da Boston Consulting Group (BCG), com base em 13 mil entrevistados de diferentes países, mostra que os efeitos das novas tecnologias, sobretudo no trabalho, agradam mais que preocupam. São líderes, gestores e linha de frente de empregados que esperam melhorias na qualidade de vida, enquanto a digitalização do mundo avança. São as novas e irreversíveis feições do presente, lideradas por personalidades, como o primeiro-ministro e vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos, o Xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum, que surpreenderiam até mesmo o teórico e matemático inglês, Alan M. Turing, pai da ciência da computação e da inteligência artificial, caso o mesmo ainda estivesse aqui e agora.
Gustavo Bernard
Mestrando em Economia (IDP), especialista em Relações Internacionais (UnB) e bacharel em Comunicação (UCB). Certificações em Ciência de Dados (Zabeel International Institute of Management & Technology dos Emirados Árabes Unidos), Marketing (Cambridge Judge Business School do Reino Unido) e Relações Governamentais (Insper do Brasil). Passagens pelos setores públicos brasileiro (Executivo, Legislativo e Judiciário) e privado (Grupo RBS, Edelman, Thomson Reuters, Gazeta Mercantil, EBC, Dominium consultoria). Fundador da Bernard Mentoring & Consulting.